Como taróloga (se você preferir, cartomante), uma das coisas que mais ouço envolve o medo das pessoas a respeito do futuro. Medo do destino. Medo dessas coisas de tarot. Um dia, eu pretendo explicar pra vocês a respeito das diferenças nos tipos de leituras de cartas, mas já mando um spoiler porque sou dessas: envolve subdividir as leituras em características divinatórias, de autoconhecimento, terapêuticas ou intuitivas, e também um bololô com mais de uma dessas, se for o caso, no caso o meu.
Mas voltemos ao tal do futuro, das predições, do destino. Aquela coisa que a gente ouve falar tanto na vida. Maktub, estava escrito. Aquela sabedoria responsável por criar coincidências, pelas leis da sincronicidade e coisa e tal. Sabe esse tal destino escrito, imutável, predestinado? Eu não acredito nele.
Pra algumas pessoas essa informação cai como uma bomba, mas preciso dizer que existem muitas tarólogas comigo nessa de que destino não existe. Ora ora, mas o que existe então? Existe uma lei básica da natureza que envolve a ação e a reação. Plantar o que se colhe. Entender que tem cosias que depende da gente, mas tem coisas que depende de um conjunto muito maior de coisas, que envolvem as ações de outras pessoas, mas também envolvem estruturas econômicas, sociais, culturais, religiosas, políticas, e por aí vai. Eita. Então, na nossa vida, basicamente a lei da ação e reação tem como âmago algo que chamamos de escolha, ou de decisão. Livre arbítrio. Algo que eu fiz, ou que eu não fiz, e por causa desse algo, existe uma possível sequência de desencadeamento de consequências. Entende?
É aí que eu entro. As cartas, em geral, mostram, quando mostram, se é que
mostram, uma tendência de futuro possível dentro do cenário atual. Uma tendência de futuro que tem mais a ver com o presente do que com o futuro. Que tem mais a ver com o hoje, com as decisões que tomamos hoje, com o que movimentamos hoje, com a possível discrepância entre o que a gente quer e o que a gente realmente está fazendo para conseguir isso.
Então o futuro é sobre escolha, decisão, livre arbítrio. É sobre liberdade. Mas uma liberdade limitada pelas outras liberdades e por todas as estruturas sobre as quais falei anteriormente. Neste panorama, uma palavra pode ser adicionada, temida por muitos, e é a responsabilidade. Porque, afinal, o conhecimento pressupõe responsabilidade. A decisão, a escolha, o livre arbítrio, pressupõem responsabilidade. O futuro, este, sem dúvidas, pressupõe responsabilidade. Porque aí, nesse caso, não dá pra jogar nas costas de ninguém. Do destino, de que algum ser divino quis assim, do que estava escrito. E sim, de nós. Do que é possível, dentro da teia de várias vidas, várias histórias e várias estruturas com as quais nos relacionamos nessa vida, do que está ao nosso alcance e de como, efetivamente, a gente se responsabiliza de verdade sobre as nossas decisões, nossos desejos, nossa liberdade, e nosso livre arbítrio.
Professora universitária, taróloga, dançarina, amante da vida, da arte, dos bichos, de algumas pessoas. Academicamente, atuante no circo, dança, arte, ginástica, educação inclusiva, psicologia do esporte, aprendizagem motora, história e recreação e lazer. Na vida, tudo isso com uma dose de comida, viagens e mais algumas coisas.