foto de Carolina Maria de Jesus lendo

Carolina Maria de Jesus: exemplo de força, coragem e resiliência

No dia da mulher, nada melhor que apresentar um exemplo de força e resiliência: Carolina Maria de Jesus. Uma mulher negra, que lutava diariamente para sobreviver e no meio disso tudo, usou a escrita como seu refúgio.

Ela não estudou por muito tempo, mas era uma leitora nata e foi uma escritora e tanto. Pela escrita, desabafava e narrava a realidade da favela, a desigualdade, o racismo e o seu ponto de vista. Na favela do Canindé (zona norte de São Paulo) começou a catar papel e metal para reciclar e, assim, conseguir um pouco de dinheiro, mas além de catadora de papel, foi uma catadora de palavras, pois escrevia seus textos e poesias nos cadernos que encontrava no lixo.

A escritora foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas. Quarto de Despejo é a obra mais conhecida da autora. Nos seus desabafos mostra os problemas da vida na favela: o trabalho como catadora de lixo, a fome, a felicidade que só surgia quando tinha comida, as brigas de rua, a violência domiciliar e a forma como os favelados agiam, eram vistos e tratados. Além das dificuldades de criar três filhos, sozinha.

“A noite enquanto elas pede socorro eu tranquilamente no meu barracão ouço valsas vienenses. Enquanto os esposos quebra as tábuas do barracão eu e meus filhos dormimos sossegados. Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas. Não casei e não estou descontente.” (Trecho do livro Quarto de Despejo)

O fio condutor da obra é a busca por comida, Carolina caracterizava a fome como amarela. E em meio a todo o caos e dificuldade, a escritora sempre recorria para a poesia, a música e a literatura. Maria Carolina é a voz da mulher que não consegue se expressar e a representação do povo pobre brasileiro que ainda hoje, infelizmente, precisam lidar com a fome.

Além disso, ela merece a nossa admiração e deve ser nossa inspiração diária. Mulher, negra, mãe solteira e com todas as dificuldades, tentava não deixar a peteca cair e lutava contra a fome. Semianalfabeta, mas dona de um talento sem tamanho. Pobre, mas dona de uma força de vontade, garra e persistência sem igual. Solteira, porém, muito bem acompanhada dos seus filhos, livros e a escrita.

Quem não conhece, recomendo que comece a leitura para ontem. Quem já leu, releia, sempre é hora de recomeçar. Até porque, é impossível não se encantar com a forma como ela se expressa, a sua linguagem simples e o seu vocabulário rebuscado. E mais que isso, esta obra colabora, e muito, para que aprendamos a olhar a realidade do outro de uma forma empática e não desistamos de lutar por um Brasil e um mundo melhor.

E mais: que sejamos todas Carolina. Que nos momentos difíceis, lutemos e tenhamos bons livros e um diário para nos acompanhar. E que nunca desistamos de batalhar.

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