O nascer da fênix

Estou na estrada desde quando tinha 1 ano de idade, e desde então, não parei de mudar de cidade, de casa, de vida, de cabelo. Tudo é inconstante em minha vida: a cor do meu cabelo, minhas roupas, minhas mudanças de humor, meus desejos, minhas vontades. Sempre decidi sobre minha vida em segundos. O curso de graduação que iria fazer, se namoraria ou não, se mantinha meu cabelo comprido ou se raspava de vez. Nunca fui de esperar demais, de escolher demais, porque sempre soube o que queria naquele momento, até porque durante a minha vida, não escolhia meus destinos, mas eram escolhidos, então, aprendi a escolher tirando o palito menor.

Parece besteira, mas de alguma forma, mudar tanto mudou a minha vida, pois me deu várias possibilidades de recomeçar por ser de fato uma estranha sem nome. Sempre gosto de relembrar o filme Comer, Rezar, Amar. Toda a sensação de se libertar daquilo que não condiz consigo mesma, me deu forças para seguir, para poder abraçar de fato quem sou: eu. Por um tempo, foi difícil de compreender que Deus me fez uma desbravadora de mundo, onde nada seria fixo para mim. Não sei se considero como fuga ou como liberdade, porém, Deus me deu a capacidade de me adaptar onde é que estivesse.

Cansei de contar quantas casas morei, quantas pessoas conheci, quantas culturas conheci. Há cidades em que estive, porém, não lembro o nome, mas lembro da paisagem. Lembro da estrada, do cheiro de mato, da dor, do sofrimento, das pessoas rindo em família, do cheiro da parada de ônibus e do banheiro imundo. Entretanto, o mais engraçado é que sempre adorei passar tanto aperto na estrada, porque, foi isso que me construiu de alguma forma.

Quando furaram minha orelha sem a permissão de minha mãe, tive infecção. Motivo? A tarraxa e o brinco entraram no buraco e infeccionaram. Foram três longos dias até chegar em casa e ir direto para o hospital para realizar cirurgia. Há tantas coisas em que não me lembro e coisas que ficarão na memória, mas fico tão feliz por ter rodado tanto lugar, tão feliz por Deus ter me dado um espírito tão livre e intenso. Meu lugar não é ficar parada, é na estrada, é na correria, é o vento no rosto, o cheiro de viagem, o cheiro de tudo em que não pode se descrever! Eu nasci para voar.

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